sexta-feira, 30 de abril de 2010

MACHISTA SIMPÁTICO

Adauto Suannes é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Atualmente, divide seu tempo entre os netos e suas (na maioria das vezes) divertidas crônicas no blog  Circus do Suannes (http://www.circus-do-suannes.com/). Semanalmente, escreve para o site jurídico Migalhas (www.migalhas.com.br).

Essa semana, o douto magistrado de pijamas nos brinda com uma espirituosa análise do Curriculum Vitae da canditada do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República (http://www.migalhas.com.br/mig_circus.aspx). Nem sempre "politicamente correto", segundo o próprio, com as escusas da idade, dessa vez ele mostrou uma veia machista que eu, pelo menos, desconhecia.

Ao se referir ao avanço feminino em áreas de atuação até pouco tempo dominadas por homens, ele nos conta:

"Sempre achei que era hora do ingresso de pessoas do sexo feminino na política e na magistratura, muito embora meu amigo e colega Braguinha me comprovasse, de Bíblia em punho, que há absoluta incompatibilidade entre o sexo feminino e a chamada coisa pública. Depois da Marta em São Paulo, a Benedita em Brasília e a Ieda no Sul, fico a cismar se o homem não teria razão. A propósito: alguém aí conhece alguma juíza que vestiu a toga mas deixou a arrogância no armário? Não quero dizer que não exista. Iaque e ornitorrinco, segundo dizem, também existem, mas esses eu só vi em fotografia."

Poxa, Excelência! Conheço magistradas nada arrogantes, assim com conheço (muitos) julgadores do sexo masculino convictos de que a toga é o próprio manto sagrado a lhes conferir divindade. As vaidades humanas (sempre plurais) não acometem exclusiva e generalizadamente às mulheres. Não declino o nome das Juízas, Desembargadoras e até Ministras das quais já tive oportunidade de observar humildade e gentileza, mas estou à disposição para lhes apresentar. Iaques e ornitorrincos, infelizmente não posso.Também só os conheço por fotografias.

 Iaque


Ornitorrinco

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CUIDADOS PALIATIVOS NO NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Em cerimônia realizada nesta terça-feira, 13 de abril, autoridades médicas e políticas, entre elas o Ministro da Saúde José Gomes Temporão, celebraram a entrada em vigor do novo Código de Ética Médica.O Ministro Temporão destacou a modernidade dos conceitos abordados na nova norma, ressaltando que "o ser humano deve ser o centro das nossas atenções".

Pela primeira vez, o texto normativo da atividade médica trata de cuidados paliativos, conjunto de técnicas médicas voltadas para pacientes com doenças graves com o objetivo de diminuir seu sofrimento. Diz o texto: "Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal".

Em verdade, trata-se de primazia da realidade sobre o ideal. A medicina reconhece sua limitação científica na dignidade do paciente, no caráter anti-ético do prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento para o doente e seus familiares.

O tema é debatido há alguns anos na Câmara Técnica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos,  do Conselho Federal de Medicina, onde encontrou eco para as experiências vividas no mundo acadêmico, como as desenvolvidas na Divisão de Neonatologia do Centro de Atenção à Saúde da Mulher da Universidade de Campinas. Ali, a prática dos cuidados paliativos já não é novidade, onde um grupo coordenado pela pediatra JUSSARA DE LIMA E SOUZA, trabalhando além das perspectivas e das possibilidades de cura, busca ajudar pacientes e familiares a ultrapassarem o difícil momento da morte, que marca "uma história de vida, não importa o tamanho que essa vida tenha. Nosso trabalho é cuidar bem dessa história. Da vida", como afirma a médica.

Sim, nossa passagem por aqui é limitada. Sim, haverá dor no momento da partida. Mas, como Drummond já escreveu, "a dor é inevitável. O sofrimento é opcional." Que a medicina continue evoluindo para minimizar nossos sofrimentos.

Em tempo: o sobrenome não é uma coincidência.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

ENCRUZILHADA

Há um ponto onde a estrada se bifurca, o caminho se abre em dois. Voltar é impossível, pois o tempo corrói o percurso por onde já passamos. Algo parecido com futuro nos assombra, como uma lembrança daquilo que ainda não foi vivido. Neste ponto, somos convidados da dúvida. Jogamos com os mistérios das diversas trilhas que se descortinam, as muitas vidas que podemos viver. Gozamos esse momento, como quem goza com a infinita dor e o puro prazer da opção. Nada é o que é. Tudo é interpretação.