sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

RIO GRANDE DO NORTE SE ESFORÇA PRA NÃO SER LANTERNA


O título da postagem seria ótimo se tratasse do ranking da qualidade da educação, onde o Rio Grande do Norte ocupa a última posição. Antes fosse... A lanterna que o Estado quer passar adiante é da Unidade da Federação onde as custas judiciais são as mais baratas.

O site de noticias jurídicas Migalhas (www.migalhas.com.br), há alguns anos, realiza uma pesquisa nos Tribunais de Justiça do País indagando as custas judiciais para uma causa hipotética com valor de R$10.000,00. 

O Estado Potiguar sempre teve o honroso último lugar. Honroso porque, nesta terra de costumeiro desrespeito ao direito alheio, facilitar o acesso à justiça deveria ser uma preocupação dos administradores das Cortes Judiciais. 

Infelizmente, não era esse o pensamento dos Doutos Desembargadores locais que, na virada do ano, aumentaram a tabela de custas, com auspícios da Goverandora do Estado, em inimagináveis 100%. 

As justificativas foram tristes. Disse o Des. Rafael Godeiro, Presidente da Corte: "O problema é que nós éramos o último Estado em arrecadação de custas processuais. Nós fizemos apenas uma adequação de valores".


Já para o Corregedor do Tribunal, Des. João Rebouças, "nós resolvemos sair da laterna e irmos para o 5º  (sic) lugar do Brasil (de valores mais baixos). Por mim, a gente iria para o meio (da lista)".

Deus nos acuda! 


O site Migalhas buscou se desculpar com os jurisdicionados potiguares: "Da mesma forma que Santos Dumont lamentou profundamente o uso de seu invento para fins militares, Migalhas lamenta que o trabalho de pesquisa realizado tenha sido utilizado para finalidade contrária à pretendida. Com efeito, o que pretendíamos era justamente que os Estados com custas maiores diminuíssem as suas, e nunca o contrário".


É certo que os realmente pobres têm direito à gratuidade da Justiça. A conta da adequação de valores  - para cima - e do "salto" no ranking, então, vai ser paga pelo empresariado (que repassa os seus "custos operacionais") e pela sempre castigada classe média. Valei-me, Santo Ivo, protetor dos Advogados... acho que vou precisar.
Espero que os responsáveis pelo site não escolham o caminho do Pai da Aviação, dando cabo de si mesmo. Também não é pra tanto. Mas que foi mal... foi!

 

sábado, 23 de janeiro de 2010

O HAITI NÃO É AQUI

Tragédia. Dor. Sofrimento. Palavras incapazes de conter todo o significado das consequências do terremoto no Haiti.

Somos minúsculos diante das forças da natureza e o luto pelas perdas é sentimento mínimo diante das imagens alardeadas na mídia.

Essas  misérias, no entanto, estão ao nosso lado. Diariamente. E me sinto envergonhadamente acomodado por não fazer mais para minimizá-las...

Em menos de três horas depois do terremoto, equipes americanas já desembarcavam em Porto Príncipe para restabelecer condições mínimas de tráfego aéreo. Nosso Ministro da Defesa ainda não tinha sequer se mexido. Parece tolice imaginar esse momento como uma "oportunidade" do Brasil se firmar no cenário internacional como peça de suma importância.

Por aqui, nesse País das Oportunidades, a solidariedade humana aparece como desculpa para barganhas políticas. Pelo menos, é o que noticiou Cláudio Humberto (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/claudio-humberto-1.12113/haiti-doac-o-pode-acabar-em-ong-petista-1.63658):

O presidente Lula, que até hoje não visitou as áreas devastadas pelas chuvas do começo do ano, aquelas que mataram 52 pessoas só no Rio de Janeiro, anunciou ontem logo cedo a doação de US$ 15 milhões ao Haiti a vítimas do terremoto. A estonteante rapidez pode ter explicação: como em doações a outros países, parte do dinheiro pode acabar em ONGs de “trabalho voluntário” e “humanitário” ligadas a petistas.
 “Ainda não sabemos como esse dinheiro chegará ao Haiti”, confessou ontem o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores). Ele sabe, sim.
Apesar da insistência, o governo Lula jamais informou à CPI das ONGs quantas e quais delas recebem dinheiro público brasileiro no exterior.
Ao visitar o Haiti em setembro, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da CPI, se espantou com a invasão de ONGs brasileiras.
ONGs de petistas infestam também países como El Salvador, Bolívia, Cuba e Equador, destinos de “doações humanitárias” do governo Lula.
Rápido na liberação de US$ 15 milhões (R$ 26,4 milhões) para as vítimas do terremoto no Haiti, o governo Lula ainda não depositou um único centavo na conta da prefeitura de Angra dos Reis (RJ) para assistências às vítimas das tragédias que mataram 52 pessoas no Estado do Rio. A informação foi confirmada pela prefeitura, que, para receber os R$ 80 milhões prometidos, precisa “apresentar projetos”.
Claudio Humberto.
 

Esses "joguinhos" são manifestação da mesquinharia. Em contra-ponto ao olhar deste pai com o filho morto nos braços, são indícios de monstruosidade!



(Agência Reuters)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A TEMPO: ENTÃO, É NATAL (PARTE II)

Mais uma.


Alguém poderia me explicar as razões pelas quais o Papai Noel é menor que o duende? Será ele um anão ou o seu ajudante é supervitaminado?

Vamos adiante...





E esse "anjinho" com chapéu de cangaceiro? O chapéu de duas pontas, adornado pela estrela de seis pontas, é criação de Virgulino Ferreira. Segundo o site oficial de turismo do Estado de Pernambuco (http://www.guiapernambuco.com.br/persona/lampiao.shtml): "Enfeitar roupas, chapéus e até armas, com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião". O fato é que - controvérsias acerca das suas razões à parte - os cangaceiros aterrorizaram o Nordeste, invadiam casas e fazendas, estupravam, roubavam e "sagravam" pessoas sem dó. Não combina muito com a imagem de um anjo.

Prossigamos.



Ok. A foto não está boa. Mas, repare bem nas "bandeirinhas" de papel metalizado que cobrem a pista da BR-101, na entrada da cidade. Viva São João! Viva São João... oooops. É Natal.

Pois, que soem as trombetas do Apocalipse.



Contudo, nem só de decoração de gosto duvidoso se fez o Natal em Natal. Sob o olhar inovador da direção de Henrique Fontes, com cenários virtuais belíssimos criados por José Edson Silva e uma trilha sonora formidável (destaque para a batida "lounge" emprestada para o Hino de Sant´Ana na voz maravilhosa de Valéria Oliveira), o Auto de Natal, apresentado entre os dias 21 e 23 de dezembro de 2009,  no Anfietatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi um presente fabuloso (http://www.youtube.com/watch?v=iCzwXqxA62Q).

Tomara que a próxima decoração se contagie.

A TEMPO: ENTÃO, É NATAL...

Moro em Natal. Até pela vocação ditada pela data de sua fundação, o nome pelo qual foi batizada e crismada, sempre imaginei que, embora o calor de dezembro não nos remeta necessariamente à idéia de paraíso, esta seria a cidade ideal para vestir os trajes mais iluminados nessa época do ano.

Natal em Natal é mais que um slogan. É um destino a ser assumido para que se faça aqui, uma festa de geração de emprego e renda, de diversão e cultura, de religiosidade e alegria.

No ano anterior (2008), a decoração da cidade começou com umas pequenas cruzes plantadas nos canteiros centrais da Avenida Hermes da Fonseca. Iluminadas, à noite, pareciam compor o cenário de Halloween. De dia, era a reprodução de um cemitério militar. Tudo bem, é festa cristã... mas a celebração não é da Paixão. A decoração não resistiu às críticas e foi logo alterada para tradicionais luzes nas árvores. Nada muito criativo, nada muito bizarro.

Esse ano, verificamos que o fundo do poço do Natal Fashion Desing tem porão. Quando os primeiros enfeites começaram a mostrar, literalmente, a cara nas ruas, os mais afoitos cairam matando. Os organizadores pediram tempo. A obra ainda não estava completa.

Bem... se no dia 23 de dezembro (data em que as fotos abaixo foram feitas) ela não estava, a conclusão ficará para o Natal do próximo ano. Então, não serei precipitado em traçar algumas pequenas críticas, que espero, construtivas, visando aprefeiçoar os desempenhos futuros (como eu aprendi ser o objetivo da crítica). E com imagens.

Então, vejamos a primeira:


A idéia, em si, não é ruim. Natal é a Cidade do Sol. O Sol com chapéu de Papai Noel. Um trocadilho fácil. Mas... precisava esse sorriso bobo e esses olhinhos vermelhos? O que terá ele fumado?

A próxima.



Você consegue identificar uma árvore de Natal nesta foto? Pois é. Ela está aí, em torno dessa torre metálica acendem-se centenas de luzes. Obviamente, à noite. Durante o dia é essa beleza.

Mais uma.

(Continua.)




segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

DO COMEÇO AO FIM SEM O MEIO


Uma relação incestuosa e homossexual é o argumento forte do novo filme do Aluísio Abranches, "Do Começo ao Fim". Ao contrário do chocante "Um Copo de Cólera", nesta produção o cineasta optou por uma abordagem sutil. Tão sutil que chega a aparentar inexistência de conflito. Conflito que deveria ser a mola mestra do filme. O sub-texto é rico, mas fica-se com a impressão de que a história, na verdade, não foi filmada, ela passa ao largo da câmera.

Tudo é belo, harmônico e feliz, como numa propaganda de margarina. As perdas na vida dos personagens centrais - em 30 segundos de filme, o mais velho perde o pai, a mãe dos dois também morre, a govertanta-amiga-confidente da família se muda sem contar (pelo mesmo para o público) a razão e para onde, e o pai do mais novo deixa a casa (sob a alegação, forçadíssima, de que estava mais do que na hora dos dois morarem sozinhos) - constituem os pontos mais angustiantes da trama (eu escrevi "trama"?).

Talvez tenha sido intencional, mas o único momento em que é manifestado um ligeiro desconforto com a relação de Tomás e Francisco, ocorre em uma fala do padastro do mais velho e pai do mais novo, interpretado apenas corretamente pelo Fábio Assunção:  "eu não estou sabendo lidar com essa situação", diz ele à mãe dos dois (esta sim, brilhantemente vivida por Júlia Lemertz), para, na sua aparição seguinte, mostrar-se o mais compreensivo dos pais-padastros.

E é só. No mais, muitos sorrisos e romance tão açucarado que o filme deveria alertar os riscos para os diabéticos. Algumas cenas beiram a pieguice. Outras são piegas mesmo. Se a idéia era narrar uma história de amor possível diante dessas circunstâncias, 15 minutos de filme teriam sido suficientes.

Logicamente, a simples menção da relação retratada é provocativa e não foi a intenção fazer um filme redentor ou levantar bandeiras. É um romance. Uma história de amor, um amor complexo simplificado pela mão de Aluísio Abranches.
O maior equívoco, no entanto, decorre do próprio título. É retratada a infância dos dois irmãos, o princípio da intimidade inocente e amor fraterno; e a vida aduta, a entrega física e o estabelecimento de uma relação verdadeiramente homoafetiva. Mas, cadê o meio? A adolescência é, por si só, um período de conflitos psicológicos pra qualquer um. O que dizer, então, de dois irmãos apaixonados, desejosos um do outro? Para o Aluísio Abranches, aparentemente, Tomás e Francisco não passaram por isso, ou ele não achou relevante narrar como eles ultrapassaram essa fase.