terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DOIS MIL E DEZ!

Fecham-se as cortinas de mais uma temporada. No adeus ao Ano Velho, existe uma carga de saudades. Afinal, nem só de propinas em meias e cuecas, mal-assombro de funcionários fantasmas, corrupção e tristezas se fez 2009.

Hão de ser lembrados os bons momentos, aproveitados com saúde. Nossa vitória sobre o dia-a-dia esmagador. Há de permanecer na memória o sorriso. Não se trata de esquecer as lágrimas, afinal, muito elas nos ensinam. É apenas a valorização do bem.

Na expectativa do Ano Novo, não se há de abandonar a esperança. Esperança que nos dê forças para lutar na correção dos erros e nos anime a marchar na direção dos acertos.

Lembremos: A FELICIDADE É UMA ESCOLHA!

FELIZ 2010!



terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TOLERÂNCIA DE PRESENTE

O Natal é sempre motivo para que as pessoas se predisponham a ser melhores. Se são cristãs, buscam refletir sobre a chegada do seu Menino-Deus como uma mensagem de amor. Se são apenas capitalistas, estampam seus melhores sorrisos para obter boas vendas.

De qualquer forma, é um bom momento para pensarmos no que vai mal na humanidade e como concorremos para isso (ou que fazemos para evitar).

"O inferno são os outros." Esta frase saiu da boca do personagem Garcin, do espetáculo “Entre quatro paredes”, do francês Jean Paul Sartre. E o que nos torna o inferno dos outros é falta de tolerância.

Assisti, essa semana ao curta eslovaco "A CAMISETA" (http://www.youtube.com/watch?v=2rtCnegW_SY) sobre esse tema.

Assista. É essa a mensagem que eu deixo pra você nesse Natal: QUE POSSAMOS SER, SEMPRE E MAIS, TOLERANTES.

"Dizer que somos todos uns intolerantes, cada um a sua maneira, sem que, no entanto, nos percebamos como tal, achando, cada qual, sempre com alguma justificativa sedutora, honesta ou não, para esses nossos atos, qualificados como intoleráveis por outros, que não nós próprios, sendo estes, provavelmente, aqueles que sofrem as consequências dessas atitudes, nada tolerantes, talvez me faça, dizendo isso, parecer já um intolerante, mesmo que a olhos que julgam exercitar-se, constantemente, na tolerância, sendo, então, eu apenas um a mais nessa multidão de justificativas, algumas que de tão honestas, ofendem-me, surgindo-me como intolerável esse exagerado exercício." CHICO VIVAS



sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

QUE MERDA É ESSA?


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quinta-feira (10), que nunca antes na história desse Páis, foi investido tanto em saneamento básico. Durante a cerimônia de assinatura de contratos do programa Minha Casa, Minha Vida no Maranhão, Lula assim se manifestou:

"- Eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB. Se o outro é do PFL. Eu não quero saber se é do PT. Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto - disse o presidente, que em seguida reconheceu que será criticado por ter dito o palavrão. Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência que eles falam mais palavrão do que eu todo dia e tenho consciência de como vive o povo pobre desse país. E é por isso que queremos mudar a história desse país. Mudar a história desse país não é escrever um novo livro, é escrever na verdade uma nova história desse país incluindo os pobres como cidadãos brasileiros."

Inicialmente, registre-se que o PFL não existe há muito tempo. Mudou o nome para Democratas (mas continua o mesmo...)

Mas, prosseguindo. O Lula falando merda - no sentido figurado - não é novidade. No sentido literal, merece todas as críticas dos comentaristas dos grantes jornais, por mais que estes usem as mesmas, ou piores, expressões.

Há um mínimo de elegância exigível para se falar em público. Faltando esta, não há respeito com o interlocutor. Por mais que as palavras tenham perdido sua força pela "popularização do uso", a gentileza na expressão oral ainda é um sinal de decência. Isso para qualquer um... inclusive para o Presidente da República.


Por diogosalles.com.br




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

MAGNA CARTA

Nunca antes na história desse País se pensou em algo tão brilhante. Depois de alimentar o fisiologismo como  um bichinho de estimação, e desconsiderar o tempo consumido combatendo o mesmo fisiologismo... apenas na teoria,  Lula ontem sugeriu - pasmem! - a convocação de uma Constituinte para promover a reforma política e eleitoral. Segundo o Mandatário-Mór, os partidos deveriam defender agora - para levar adiante após as eleições de 2010 - "uma Constituinte específica para fazer uma legislação eleitoral para o Brasil".

Vejam só: uma Assembléia Nacional Constituinte para reformar um naco da Constituição é, por assim dizer, muito "isxperrrrto". Em primeiro lugar, porque constituir significaria demolir o que já existe, e erigir algo novo. Não apenas "fazer um puxadinho na laje". Depois, era só conviver com o Frankstein em que se transformaira a Carta Magna. Faz um arranjo aqui, muda uma coisa acolá, ao sabor dos "acordões". E, não se duvide: mudanças escabrosas poderiam se desenhar.

Quisesse mesmo mudar alguma coisa, com a popularidade amealhada a custa de muita "bolsa" e alianças políticas outrora inimagináveis, Sua Excelência, o Presidente da República, não precisava esperar o apagar das luzes de seu segundo mandado para vir com essa idéia luminosa.

Constituição não é colcha de retalhos. É fruto de anseio social e valores consolidados. No entanto, os espetáculos - muito tristes - de falta de comprometimento ideológico de partidos e partidários atestam a necessidade de reformar as mentes, antes de se pensar em reformar as normas.


Constituição Federal by Angeli

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ISSO É UMA VERGONHA!

Deu na coluna da jornalista potiguar Eliana Lima:

"Plágio....

Publicação: 28 de Novembro de 2009 às 00:00
Anna Ruth Dantas (annaruth@tribunadonorte.com.br) - Interino

Suspeita de crime na produção de uma peça jurídica. O advogado Miguel Josino denunciará a Ordem dos Advogados do Brasil seccional do Rio Grande do Norte a denúncia de um plágio. Ele descobriu que um advogado, que atua em um famoso escritório de advocacia local, copiou algumas petições, ipsis literis. Todo o trabalho intelectual que Josino levou semanas fazendo foi plagiado.

...no Direito

O “homem sombra”, adepto do “control C, control V”, foi tão “criativo” que até as citações de autores franceses foram colocadas, no entanto, sem o registro devido e legal. Miguel Josino já impetrou ação com acusação de crime de plágio. O processo tramita no Fórum da Justiça estadual."

Prefiro não comentar. Como diria o Bóris...



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

VOTE SIM PARA O PLC 122/2006 E NÃO AO PRECONCEITO

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Recebi um e-mail inacreditável, em um grupo de discussão do qual faço parte. Dizia o seguinte:

"Amigos, se vocês não querem ser criminalizado (sic) por achar que o homossexualismo é algo anormal, vote NÃO. Acabei de votar e o "não" estava em 51%. Acessem o link do senado."

Vendo alguém (que provavelmente se acha "normal") conclamar seus amigos a votar contra um projeto de lei  (PLC 122/2006) que define "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero" só me faz crer que a figura em questão não conhece o teor da norma legal que está em votação. Ou não teve capacidade intelectual para compreendê-la, entender o seu alcance social.

Achar "normal" ou "anormal" a vida, opção, tendência ou desejo dos outros, não está em discussão no PLC. Isso é próprio de quem não lida bem com suas próprias escolhas, não está bem resolvido com sua vida e precisa cuidar da existência alheia.

O que se busca conter é a violência, a injusta discriminação, a conduta que, por outras motivações, já é condenenável pelo nosso ordenamento jurídico, com base em um princípio fixado na Constiuição Federal: não há distinções entre os cidadãos perante a lei.

Não se pretende, por força legislativa, determinar o que é normal ou não. Eu duvido da possibilidade dessa fixação de forma saudável, em uma sociedade marcada pela repressão, pela hipocrisia e pela intolerância. Tambem não tenho ilusões de ser possível ultrapassar preconceitos, através da edição de normas penais. Mas, num Estado laico, democrático de direito, há que se promover medidas de garantia a todos.

O projeto torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero - equiparando esta situação à discriminação de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional, ficando o agente criminoso sujeito a pena, reclusão e multa.

O projeto não limita ou atenta contra a liberdade de expressão, de opinião, de credo ou de pensamento. Ao contrário, contribui para garanti-las a todos, evitando que parte da população, hoje discriminada, seja agredida ou preterida exatamente por fazer uso de tais liberdades em consonância com sua orientação sexual e identidade de gênero.

Apenas um integrante do grupo de discussão apoiou - expressamente - a posição obtusa defendida no e-mail que recebi, alegando não haver necessidade de uma norma especialmente dirigida para o caso. Se vivessemos em um País onde a violênica e o preconceito não fossem tão específicos,  talvez houvesse algum traço de razão no argumento. Mas não há. Se a motivação de uma conduta criminosa é direcionada ou peculiar, a norma para reprimí-la não pode ser "genérica".

Inútil seria prosseguir na argumentação; afinal, tenho sempre em mente a advertência do Millor Fernandes: "Às vezes você está discutindo com um imbecil... e ele também." Manda o bom senso evitar as discussões estéreis.

No entanto, posso fazer meu pequeno manifesto por dias melhores.

A forma de caminharmos no sentido de um mundo onde a convivência harmônica entre os seres humanos seja um valor inarredável, é acessar o site http://www.senado.gov.br/agencia/default.aspx?mob=0 e votar SIM para a aprovação do projeto de lei (PLC 122/2006).






quinta-feira, 19 de novembro de 2009

STJ REDUZ INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é a última instância da Justiça brasileira para as causas infraconstitucionais, não relacionadas diretamente à Constituição. Ali se encerram as discussões (entre muitas outras) acerca do valor das indenizações a serem pagas em caso de reconhecido dano moral.


Neste aspecto, aquela Corte tem se mostrado bem pouco pródiga na fixação de valores. 


Recentemente, reduziu de R$220.000,00 para R$40.000,00 a indenização devida ao ator Thiago Lacerda pela Rede de Televisão SBT. Em abril de 2000, o Programa "Domingo Legal" fez um leilão de uma sunga de banho, supostamente usada por Lacerda ao interpretar Jesus Cristo, em Nova Jerusalem/PE. 


Maitê Proença também viu o montante indenizatório de R$250.000,00, incialmente fixado em processo movido contra o Jornal Zero Hora, para R$70.000,00. O periódico publicou, em primeira página, sem autorização, fotos da atriz nua.


Além de celebridades, pessoas do próprio meio jurídico tiveram suas vitórias reduzidas pelo STJ, como é o caso da Procuradora do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, Leoni Alves Veras da Silva. Em março de 2000, a Rede Globo veiculou matérias no Jornal Nacional e no Bom Dia Brasil, onde se insinuava sua participação em irregularidades administrativias. Dos R$370.000,00 determinados pela Instância Inferior, restaram apenas R$50.000,00 após o superior corte.


Já o Meritíssimo Juiz Trabalhista Vicente Vanderlei Nogueira de Brito deve ser indenizado pela Editora Abril em 50 salários mínimos por dano moral decorrente de notícia injuriosa publicada na revista Veja. A importância inicial era de R$90.000,00.


Há de se reconhecer, não é tarefa fácil traduzir em uma soma algo intangível. Nem mesmo os mais altos jurisconsultos podem aquilatar a dor, a angústia, a humilhação, o sofrimento vividos por outra pessoa. A linha entre o dano moral e o mero aborrecimento, não passível de indenização, não é objetiva.


Entretanto, reconhecida a existência do prejuízo imaterial, a dificuldade para estabelecimento de justa compensação encontra entrave na dupla finalidade da indenização. Ela deve, de alguma forma, trazer algum alento ao prejudicado - sem enriquecê-lo -, e, por outro lado, punir o autor da ofensa, intimidando-o a não repetir a conduta.


Diante da busca desse equilíbrio, parece que o STJ não tem considerado a verdadeira capacidade econômica dos ofensores. Para a Globo ou para a Editora Abril, as importâncias indenizatórias fixadas não imprimem qualquer sensibilização. A reincidência é a mais contundente prova disso. Não havendo punição, ou sendo essa muito branda, a ofensa moral se repete. Assim, não se faz superior justiça.


Fachada Noturna do STJ
Por Jorge Campos (ACS/STJ)







quinta-feira, 12 de novembro de 2009

XUXU, APAGA A LUZ...


Ao final do expediente dessa terça-feira, 10 de novembro de 2009, teria ocorrido o seguinte diálogo na Usina de Itaipu:

CHEFE: Quando sair, apaga tudo.
ESTAGIÁRIO: Ok.

Essa é a hipótese levantada pelos anedotistas de plantão nesse nosso Brasil da piada pronta para o "blackout" que deixou grande parte do País e todo Paraguai sem luz por diversas horas. Não é melhor que a apresentada pelo Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, ao atribuir aos caprichos da Mãe Natureza a falha no abastecimento de energia elétrica a dezoito Estados da Federação e ao nosso vizinho, em um momento de pico de consumo:

"Tanto o Operador Nacional do Sistema, como Furnas, Aneel, concluíram que o aconteceu foram descargas atmosféricas, ventos muito fortes em Itaberá, o que provocou curto circuito em três sistemas ", disse Lobão, se referindo ao órgãos que integram o Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).

Itaberá?  Para quem não a conhece - como eu, apesar de ser paulista -, a cidade fica a sudoeste do Estado de São Paulo, quase divisa com o Paraná, entre Itapeva, Itaporanga e Itararé. Confira no Google Maps., se acha que eu estou brincando (http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&client=firefox-a&channel=s&rls=org.mozilla:pt-BR:official&hs=1FI&q=itaber%C3%A1%20&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wl). De lá, o Prefeito Walter Sergio de Souza Almeida disse que não "sabia que o ocorrido tinha a ver com Itaberá". "Aqui não faltou luz e só aconteceu uma pequena falha", afirmou. Segundo relato do Prefeito e de moradores do Município, as condições do tempo não estavam tão tormentosas quanto quer fazer crer o Governo. De qualquer forma, quem observa a simpática matriz cor-de-rosa da cidade de menos de 20.000 habitantes jamais suspeitaria de sua importância estratégica para os Poderes Nacionais.

Em verdade, antes mesmo de achar as reais causas do problema - e apresentar uma justificativa plausível -, parece que a preocupação maior das  Autoridades ditas competentes foi blindar a imagem da candidata Dilma Rousseff  dos efeitos políticos do episódio. Nada mais natural na desordem lógica de uma campanha para fazer dela Presidente da República,  tendo vista a passagem da mesma pela Chefia do Ministério de Minas e Energia.

Não se trata apenas de afastar questionamentos quanto à administração do País a longo prazo, como seria de se exigir aos Ministros de Estado. Busca-se, de todas as formas, afastar uma discussão sobre a fragilidade do sistema de energia brasileiro, a falta de alternativas e o despreparo para soluções dos acidentes. Afinal,  não há razão para se inveredar por esse perigoso caminho, se o incidente foi "causado" por raios e ventos, imprevisíveis e incontroláveis.

O direito brasileiro admite que o caso fortuito e a força-maior excluam a responsabilidade civil, admitindo-os como causa para impedir o dever de indenizar.

Ótimo. Como se diz por aqui, juntou Tomé com Bebé. A culpa não é do planejamento estratégico do País.  Não é do Governo. Nem das concessionárias de distribuição de energia elétrica. Os milhares de prejudicados com a ocorrência, quer por perda de eletrodomésticos, quer por transtornos de diversas ordens, como, por exemplo, estar em uma UTI de um hospital público sem gerador na hora da falha (como ocorreu na cidade de Bauru),  tem a opção de recorrer a Xangô, orixá do raio, do trovão, do fogo e da JUSTIÇA.

É certo que os dissabores, prejuízos e medos provocados pela perda de algo que se incorporou à nossa necessidade humana, como a energia elétrica, determinam a discussão clara e ampla sobre a real situação de nossos sistemas, e as suas perspectivas para os anos futuros. Não dá para esperar a solução dos orixás. É irresponsável fugir ao debate, no estilo "não tenho nada a ver com isso".

A única pessoa - que me ocorre - satisfeita com o apagão, seria a Kika. Kika, interpretada por Clarice Piovesan, e Xuxu, vivido por Stênio Garcia, eram, originalmente, personagens de um quadro apresentado no  programa humorístico Planeta dos Homens (1976). Ela era uma mulher sensual apaixonada pelo marido; ele, um sujeito pacato que se esforça para satisfazer a mulher. O casal fez tanto sucesso que, em março de 1978, ganhou sua própria série.Quem tiver mais de quarenta vai se lembrar do bordão da esposa sempre sedenda: "Xuxu, apaga a luz..."


Kika (Clarisse Piovesan) e Xuxu (Stênio Garcia)
Foto de Divulgação (site "mofolandia.com.br")




 Matriz de Itaberá (com ameaçadoras nuvens ao fundo)
Por José Reynaldo da Fonseca

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SERÁ PARA ESQUECER?


Fernando Henrique Cardoso nega, mas a lenda narra que, ao ser questionado sobre seu passado de sociólogo-socialista em contraponto à sua conduta neo-liberal, ele teria pedido para esquecerem o que escreveu. Justamente por seus escritos, esse Presidente da República (em algum lugar ouvi dizer não ser aceitável usar "ex" para os Presidentes...) esteve no centro da polêmica crítica da semana, em função de um artigo publicado na imprensa sob o título: PARA ONDE VAMOS? (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2703129.xml&template=3898.dwt&edition=13422&section=1012)

Não precisamos descer ao detalhe do espírito oposicionista ao Governo Federal dos veículos da matéria, para antever a rajada de metralhadora disparada contra Luis Inácio.

Para quem foi vidraça, ser pedra é um passeio. Mas como cobrar certa coerência de alguém que afirmou "as hipóteses de reeleição e de deixar a mulher não são comigo", para mais tarde vender a alma (e, dizem, comprar votos no Congresso) em garantia da sua própria recondução ao cargo?

Isso, de forma alguma, desmerece a análise... como um todo.

FHC aponta falhas - inegáveis - na ordem política do Brasil, mas como se não tivesse nada a ver com elas.  Todas seriam obra e mérito do seu sucessor. Ora, meu caro Professor  Honoris Causa, não seja tão modesto. Ouso pensar que nem mesmo o José Serra teria sido tão continuista quanto foi o Lula. E o julgamento da denúncia perante o Supremo Tribunal Federal acerca do chamado "Valerioduto Mineiro" (segundo o Ministério Público Federal, trata-se de um esquema de lavagem de dinheriro utilizado pelo PSDB para re-eleger Eduardo Azeredo como Governador de Minas Gerais), precurssor do "Mensalão do PT" (procedimento ainda sob investigação judicial sobre pagamento de propina pelo Governo Lula para congressistas se alinharem às suas "propostas"), está aí para mostrar o quanto das mazelas apontadas no artigo tem suas raízes fincadas no modus operandi do Governo do próprio articulista.

Não foram poucas as manifestações sobre o texto. Enquanto alguns, como o José Agripino Wordpress (advinha de quem é?) recomenda a leitura, afirmando que "em texto brilhante, o presidente Fernando Henrique Cardoso acerta na mosca com relação aos riscos que o Brasil vive com o atual governo" (http://joseagripino.wordpress.com/2009/11/04/para-onde-vamos-de-fernando-henrique-cardoso/), o Portal Vermelho (ganha um cd com versão remix da "Internacional" quem souber o motivo da cor do portal)  atesta que  a matéria defende as "mesmas idéias que, em 1945, levaram à deposição (pela direita militar com apoio explícito da embaixada dos EUA) do presidente Getúlio Vargas, justamente quando ele se aliava às forças democráticas e nacionalistas contra as forças do atraso" (http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=633&id_secao=16).

Bom, na minha modesta opinião, o texto não é brilhante. Aliás, beira o óbvio ululante (ooops, um trocadilho infame).  Os riscos vividos pelo Brasil não são mérito apenas do governo atual.  Tão pouco é simples delírio capitalista. Registre-se ainda que, em 1945, Getúlio Vargas (na época, o DITADOR Getúlio Vargas) viu-se compelido a deixar a Presidência pela impossibilidade de conciliar a sua simpatia pelas Forças do Eixo (Alemanha Nazista, Itália Fascista e Japão Doido Varrido) - nada democráticas, por sinal - com o ingresso do Brasil na II Guerra Mundial justamente contra elas.

De minha parte, creio ser o maior mérito da publicação nos lembar a inexistência de "partidos  políticos" no Brasil. Os que assim se nomeiam são aglomerados de pessoas defendendo interesses de grupos. Um tapa na cara do PSOL, PDT, PMDB, PSB, PPS , PR, PP e outros partidos de aluguel, mais interessados em uma fatia de poder do que em comprometimento ideológico. O PT do Lula e o PSDB do Fernando Henrique, em verdade, há muito tempo não polarizam nenhum discurso político-filosófico.

Neste cenário, não devem ser esquecidos os fatos preocupantes apontados por Fernando Henrique Cardoso. Mas também não vamos ignorar como chegamos até aqui, para responder à pergunta título do artigo. Assim, poderemos caminhar na direção de um futuro melhor. E menos hipócrita.

MAIS DO MESMO
HUBERT, HUMORISTA DO CASSETA & PLANETA
UM MOMENTO "FHC": "Assim não pode. Assim não dá."
UM MOMENTO "LULA": "Nunca antes na história desse País..."

 






sexta-feira, 30 de outubro de 2009

HALLOWEEN NO SENADO

 
A origem do halloween remonta às tradições dos povos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C e 800 d.C, embora com marcadas diferenças em relação às atuais abóboras, distribuição de doces, e sem o seu bordão mais popular ("Gostosuras ou travessuras?"). A celebração foi exportada pelos Estados Unidos, sendo também adotada aqui na Terra de Vera Cruz (onde só se precisa de uma desculpa para uma festa).
 
O Halloween, quando nasceu, marcava o fim oficial do verão e o início do ano-novo. Celebrava também o final da terceira e última colheita anual, o início do armazenamento de provisões para o inverno, o início do período de retorno dos rebanhos do pasto e a renovação de suas leis. Era uma festa com vários nomes: Samhain (fim de verão), Samhein, La Samon, ou ainda, Festa do Sol. Mas o que pegou mesmo foi o escocês: Hallowe'en.

Uma das lendas de origem celta fala que os espíritos de todos que morreram ao longo daquele ano voltariam à procura de corpos vivos para possuir e usar pelo próximo ano. Os celtas acreditavam ser a única chance de vida após a morte. Os celtas tinham curioso senso de humor sobre as leis de espaço e tempo, o que permitia a mistura  do mundo dos espíritos e o dos vivos. Como os vivos não queriam ser possuídos, na noite do dia 31 de outubro, apagavam as tochas e fogueiras de suas casa, para que elas se tornassem frias e desagradáveis, colocavam fantasias e ruidosamente desfilavam em torno do bairro, sendo tão destrutivos quanto possível, a fim de assustar os que procuravam corpos para possuir.


Os Romanos adotaram as práticas célticas, mas no primeiro século depois de Cristo, eles as abandonaram. A tradição teria se tornado apenas uma brincadeira, não fossem os secretos culturadores  do limiar entre o mundo dos mortos e o dos muito vivos descobrirem o Senado Brasileiro.

Ali, esses nefastos espíritos de porcos surgem do limbo onde sobrevivem em busca de cargos bem remunerados para ocupar, se possível, por toda a eternidade, desde que não precisem trabalhar.  E o pior é que encontram!

Precisamos apagar as tochas e fogueiras do nosso conforto, para desfilar ruidosamente exigindo o fim dessa palhaçada. Essas almas penadas sobrevivem às custas dos nossos impostos. E não se enganem. Elas se travestem de pessoas comuns e podem ser a profissional liberal sentada na sala ao lado de voce (ou de mim), a gordinha morando no mesmo prédio dos seus pais,  ou até mesmo a perua fotografada nas colunas sociais com ares de "eu sou melhor que você".

Quando fustigados, esses ectoplasmas têm a cara-de-pau de alegar, em sua defesa que, apesar de não trabalharem, estão a disposição do político (safado) que os contratou. Mas, experimenta chamar algum para cumprir o expediente...


Nesta quarta-feira o presidente do senado, o imortal (argh!) José Sarney (PMDB-AP), prometeu demitir os servidores da Casa que não concluíram o cadastramento no censo realizado para atualizar o número efetivo (incomensurável) de funcionários da instituição. Apesar de já ter determinado o corte nos salários daqueles que não responderam ao chamado, Sarney disse que os servidores serão "sumariamente demitidos" se não atenderem à convocação da Casa para o cadastramento. Quanta probidade!


Veja bem... os fantasmas foram chamados a se cadastrar (PELA INTERNET, PASMEM!) e alguns não se deram nem ao trabalho de preencher o formulário "on line".  



Oh, almas sebosas! Já imaginou se elas fossem convocadas a fazer alguma coisa - qualquer coisa parecida com trabalho - em troca dos seus generosos vencimentos? Certamente, zombariam de nõs: "Gostosuras ou travessuras?" 

FOGO NELAS!!!!!!!


 

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

UM GESTO FORMIDÁVEL


O Centro Cultural Casa da Ribeira (www.casadaribeira.net), presidido pelo arquiteto José Edson Silva, é um marco na cena artística de Natal. Fruto do sonho de alguns jovens, desde seu nascedouro enfrentou as dificuldades comuns a quem atua na área, notadamente, falta de recursos e apoio. Já esteve prestes a fechar suas portas. Sobreviveu... que bom!

Há alguns anos, aqueles que mantiveram a chama de vida daquele bastião de resitência descobriram-se vocacionados para educação, pelo potencial da arte enquanto agente transformador de realidades, e partiram para buscar parcerias, objetivando desenvolver a "Casa" não apenas como um espaço de espetáculos, mas como verdadeiro agente de desenvolvimento humano.

Assim nasceu o  Projeto ARTEAÇÃO, em conjunto do Instituto Ayrton Senna, Casa da Ribeira, COSERN, fundos de Cultura,  e  parceria com as escolas  públicas Atheneu e Ulisses de Góis. O projeto elabora, com seus alunos, oficinas de interpretação teatral, cenografia, figurino e iluminação.  A perspectiva do despertar de uma carreira até então inimaginável, a par do crescimento pela ampliação dos horizontes, é o objetivo.

O encatador fruto desse trabalho pode ser conferido, este final de semana, no palco do Centro Cultural Casa da Ribeira sob o título "GESTO, CASCUDO". Mas não esperem uma "pecinha de escola". Preparem-se para um espetáculo comovente!

O texto de Henrique Fontes não tem pretensão de ser uma biografia ou uma coletânea de textos do folclorista (ooops "Folclorista é a p... q... p... Eu só é professor!") Luís da Câmara Cascudo, o potiguar mais famoso. Antes, transita entre um e outro, num ambiente lúdico de amplo espectro.

A direção segura de Giovanna Araújo traz à cena seis adolescentes (Alessandra Augusta, Camila Morais, César Silva, Larissa Gurgell, Thiago Medeiros e Wesli Dantas) com pegada de profissionais. Envolventes, desfilam a ingenuidade das crianças e os delírios de adultos com segurança.

A cenografia minimalista (parceria de José Edson Silva e Gustavo Wanderley) valoriza a palavra, até mesmo pela metáfora de livros empilhados, ora usados como escadas para um vôo imaginário, ora como apoio de um Cascudinho enclausurado, ou mesmo como um simples banco.

Merece destaque o trabalho de corpo de todo o elenco, com o toque de Ana Cláudia Vianna.

As pequenas falhas (uma luz mal colocada sobre um ator em movimento, algumas - poucas - perdas de ritmo, uma palavra ou outra atropelada...) são engolidas pela emoção contagiante. Aplaudir a iniciativa, a coragem e o talento de todos envolvidos neste Projeto - e neste espetáculo, em particular - é muito pouco.

NÃO PERCA!



terça-feira, 20 de outubro de 2009

O TEOR DO E-MAIL

Ainda sobre a postagem anterior... Eis o inteiro teor do e-mail, enviado por Grégoire Bouillier a Sophie Calle. Faça sua própria interpretação.

"Sophie

Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor converar com voê e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito. Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qula não posser grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz.

Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a "quarta". Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as "outras", não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas. Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e generoso, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que vcoê tme por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu "desassossego" se dissolveria nala para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro.

Então, esta semana, comecei a procurar as "outras". E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que vÊ impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,...) e compreensível (obviamente...); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.

Aconteça o que acontecer, saiba que nuca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide de você.

G."

CUIDE DE VOCÊ.

Certa vez uma professora de literatura questionou a turma onde eu estudava sobre a diferença entre um artista e as demais pessoas. Jamais esqueci sua resposta: diante de um pôr-do-sol, por exemplo, há aqueles que se emocionam, aqueles que nem percebem o espetáculo, talvez alguém grite, muitos aplaudem... o artista cria.

A francesa Sophie Calle buscou inspiração na realidade para criar as obras expostas até o dia 22 de novembro de 2009, no Museu de Arte Moderna de Salvador-BA, reunídas sob o título "Prenez soin de vous", ou "Cuide de Você", como ficou traduzido. A artista - famosa por algumas bizarrices como ter filmado a mãe morrendo,  ou convidado desconhecidos para dormir em sua cama,  enquanto os fotografava - causou rebuliço na a Bienal de Veneza de 2007 com este trabalho. A mostra reúne fotografias, vídeos e textos de mais de 100 mulheres e uma cacatua. Todas interpretam um e-mail recebido por Sophie dois anos antes. Nele, o escritor Grégoire Bouillier, seu então namorado, propunha um acordo, no qual ele entrava com o pé, e se despedia com a frase-título da exposição.

A artista de 55 anos exibe sua própria dor e estarrecimento, buscando em outras pessoas  respostas para  sua questão pessoal. "Recebi um e-mail dizendo que havia acabado. Não sabia como responder. Era como se ele não me fosse destinado. Ele terminou com as palavras, “Cuide de você”. Segui esse conselho ao pé da letra. Pedi a 104 mulheres (e também a duas bonecas e uma fêmea de papagaio), escolhidas por suas  profissões ou habilidades, para interpretar a carta. Para analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Dissecá-la. Exaurí-la. Compreendê-la para mim. Responder para mim. Foi uma forma de ocupar o tempo da ruptura Uma maneira de cuidar de mim mesma", justifica Sophie.

Criar sob a provocação de pequenas (ou grandes) tragédias, dessas que nos irmanam em nossa vulnerabilidade humana, exige talento para não gerar um espetáculo de patético exibicionismo. Com maestria Sophie Calle escapa da armadilha. Interpretações técnicas, acadêmicas e sigelas, são amalgamadas pela emoção.


Como todos os julgamentos, idéias pré-concebidas ou simples tendências ditadas pela formação de cada intérprete do texto são explícitos; somados às imagens contundentes elaboradas por Sophie,  formam um mosaico rico e instigante. O rol de mulheres que aceitaram o desafio inclui sua mãe; as atrizes Jeanne Moreau, Victoria Abril e Maria de Medeiros; a compositora Laurie Anderson; a DJ Miss Kittin; Marie-Agnès Gillot, a primeira bailarina da Ópera de Paris; e profissionais como linguista, taróloga, juíza, antropóloga, designer, sexóloga, assistente social e clarividente, entre outras. A juíza fala do rompimento de um contrato. A revisora aponta os erros de sintaxe do email. A grafóloga o chama de egocêntrico. A psiquiatra diz que a dispensada não precisa de antidepressivos, apenas conviver por um tempo com a tristeza. Uma adolescente se manifesta via sms: “Esse cara se acha!”. A cacatua (curiosamene tratada como "fêmea de papagaio"), literalmente, devora o e-mail.

Há, com toda certeza, uma ruptura entre o mundo público e a vida privada. No entanto,  em meio a tanta criatividade, algo resvala no óbvio, na solidariedade feminina (ou simplesmente, a solidariedade na dor da rejeição). Exceto pela visão de uma  menina de 9 anos: "ele escreve para contar a ela que quer se separar. É legal, mas complicado. Diz que a ama e quer se separar. Isso é muito triste.” E é mesmo.

Também aí reside a beleza da arte. Em traduzir a tristeza...





sexta-feira, 16 de outubro de 2009

MEIO CHEIO

Imaginar a vida plena de alegria ou de dor, a meio caminho da alegria explosiva ou da depressão profunda,  pode ser uma determinação das circunstâncias. Ou de opção. Mas que ela se torna mais fácil quando encarada com otimismo, não há dúvida.

Costumo pensar nos muitos atropelos do cotidiano como armadilhas prontas para nos derrubar, nos por para baixo. Se nossa cabeça também começa a remar nessa direção, não há como deixar de pegar o caminho para a tristeza.

E como o Vinícius cantava, é melhor ser alegre que ser triste.

Talvez seja essa a lição (óbvia) do filme "Elsa y Fred", uma produção Argentina de 2005, que revi essa semana. A história coloca em questão a opressão do "politicamente correto". Quem sabe uma análise sociológica pudesse enxergar na relação entre os personagens principais (ela, uma argentina plena de esperança e vida, compulsivamente mentirosa; ele, um espanhol sisudo, marcado por perdas em meio a uma vida sem sal), uma metáfora da relação entre Espanha e sua ex-colônia sul-americana. Não vou me aprofundar tanto.

Os dois personagens de Elsa e Fred durante o filme constroem uma relação de causar inveja em qualquer paixão adolescente. Enquanto ela busca trazer o riso à vida de Alfredo, meta de Fred é acreditar em Elsa, mesmo com todas as suas mentiras sobre a sua própria realidade. Não há como não se encantar.

Em meio a diversas referências explícitas ao "Dolce Vita", de Fellini, somos levados a crer na felicidade, achando possível a construção sentimental nas banalidades do dia-a-dia.

"Não é uma fortuna por um pedaço de carte e uma sobremesa. Isso paga a noite mais maravilhosa que eu já tive. E isso não tem preço... se não tem preço, não se paga!"



 

 

 





sexta-feira, 9 de outubro de 2009

VOCÊ E TODOS NÓS, BARACK


Em seu pronunciamento na Casa Branca hoje, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse estar "surpreso" e "honrado" com o Prêmio Nobel da Paz 2009, anunciado nesta manhã. A surpresa é geral, Presidente! Até para sua assessoria. Isso ficou claro na primeira reação extra-oficial do porta-voz da Casa Branca que, bombardeado com e-mails de madrugada, se limitou a responder: "Uaauu!".

Não é pra menos. As indicações para o prêmio se encerram em fevereiro. Ou seja, menos de um mês após a posse do Presidente Norte-americano, seu nome já constava da relação de possíveis vencedores. Isto sem ter tirado do discurso para o plano da realidade uma única idéia pacifista.

Persiste a presença de tropas norte-americanas no Afeganistão e no Iraque. A prisão de Guantánamo ainda sobrevive, e a Casa Branca parecer ter renunciado à data limite de janeiro de 2010 inicialmente fixada para o seu fechamento. Nada fez pela causa palestina. Nove meses depois de empossado e tentando submegir de uma crise econômica, o vencendor do Prêmio Nobel da Paz ainda não mostrou a que veio.

Não duvidemos de seus propósitos. Mas, apenas o discurso me parece pouco para Barack Obama perfilar ao lado de Martin Luther King Jr., Desmond Tutu, Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá.

Espero que, pelo menos, sirva de incentivo.




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

UNITED AIRLINES QUEBRA VIOLÕES


Se você digitar a expressão "CONSUMIDOR SOFRE" em seu instrumento de busca da internet será apresentado a mais de 3.800.000 páginas em português. Não é difícil imaginar a razão, já que todos nós temos uma (ou várias) histórias de mau atendimento, da prestação de serviço deficiente, da falta de respeito pela nossa dignidade quando estamos na qualidade de adquirentes ou utilizadores de produto ou serviço como destinatário final.

Eu, por exemplo, só essa semana, já perdi um precioso tempo em intermináveis e repetitivas conversas com  o centro de atendimento da minha operadora de telefonia celular (a Oi me mandou uma cobrança indevida, e, apesar das duas reclamações já efetuadas, continuam me enviando cartinhas desaforadas) e com uma empresa de transporte aéreo (a TAM mudou a saída de um vôo, anteriormente previsto para o Aeroporto Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, para o Galeão, e se recusa a restituir a diferença da tarifa paga a maior para que eu pudesse escolher de onde decolar).

Reclamar da inoperância dos operadores de telemarketing chega a ser uma redundância. Lutar contra os maus prestadores, às vezes, pode ser inglório.


Com o advento do Código de Defesa do Consumidor - e já vão aí 20 anos (a Lei é de 11 de setembro - sinistro - de 1990), houve um incremento da conscientização da população quanto aos seus direitos e uma maior ação dos órgãos de defesa. Mas ainda estamos longe da situação ideal. Precisamos fazer muito mais barulho.

Nos Estados Unidos (sim, consumidor é um sofredor universal), o músico Dave Carroll encontrou uma forma. Ele teve a desagrável surpresa, ao desmbarcar de uma viagem doméstica realizada pela United Arlines, de receber seu violão quebrado. A recuperação do instrumento foi avaliada em U$2,000.00. Muito papo e muita canseira depois, sem obter um acordo, o artista compôs uma baladinha country, "United Breaks Guitars", gravou um clipe engraçadíssimo e postou no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=t53LYUamBZI, na versão legendada). Sucesso absoluto! Na postagem original, já houve mais de 5.600.000 exibições. Com as legendas em português, ultrapassa as 320.000. A empresa, agora que foi evidenciado o descaso, fez  várias propostas para tirar o clipe do ar. No entanto, segundo o compositor, "o tempo dos espertos da United passou."

Uma bela - e bem humorada - lição.



Dave Carroll e os carregadores da United Airlines






terça-feira, 29 de setembro de 2009

BRIGA DE MARIDO E MULHER


Nunca antes na história desse País, viu-se tamanha pisada na bola diplomática. Os condutores da política externa brasileira faltaram à aula do professor Millôr Fernandes. Assim, na ignorância - vamos supor ser esta a razão -, acabaram metendo a colher em um angu hondurenho de forma  tão desnecessária quanto estúpida. E o pior, sem manter a recomendável equidistância dos contendores, como deveria ser em homenagem  à autodeterminação dos povos.

Em Honduras, na verdade, dois grupos se enfrentam, observando os fatos sob lentes da verdade bastante diferentes. Para alguns, houve um golpe militar que derrubou e sequestrou o presidente legítimo, Manuel Zelaya, suspendeu as garantias constitucionais e instalou no poder o oligarca Roberto Micheletti. Para outros, entrentanto, o então presidente atentou  contra a Constituição local ao propor mudanças em  garantias pétreas de alternância no poder,  implicando na pena incondicional da perda do cargo,  o que ocorreu somente após devido processo legal perante o Poder Judiciário.


O Brasil foi levado ao centro do "imbroglio" ao receber Manuel Zelaya em sua Embaixada em Tegucigalpa.

Acontece que o angu tem caroço. Ninguém com mais de três anos de idade acredita na versão oficial, segundo a qual o Mel, como é carinhosamente chamado o deposto, bateu às portas do Embaixador Brasileiro, de surpresa, vindo do exílio, carregando suas malinhas, seu chapéu e sua disposição para lutar pela presidência. Insistir nisso ofende, magoa As autoridades brasileiras sabiam e pactuaram com a entrada clandestina. E para quê? Para acirrar os ânimos, quando o momento era para buscar diálogo.

Com certeza, essa circunstância não caracteriza busca de asilo. Ao contrário, o refúgio político se dá quando alguém, injusta e politicamente perseguido, necessita de garantias de segurança para sair do País. Sair, entendeu, Celso Amorim? Ir para fora.

Assim, se o Brasil não reconhece o Governo instalado, não mantém com ele relações diplomáticas. Não mantendo relações diplomáticas, para as autoridades locais nossa Embaixada em Tegucigalpa é apenas um prédio abrigando um cidadão local condenado pela Justiça.

Por outro lado, com todos os holofotes internacionais na crise, chutar o pau-da-barraca e invadir o que seria território brasileiro não ia ficar nada bonito na fita, para as autoridades hondurenhas. Ainda mais em se tratando de um País tão simpaticão como o nosso. Impasse...

Uma guerra com Honduras era só o que nos faltava.

Nossos diplomatas poderiam ajudar a sair do enrosco. O Presidente Lula tem a obrigação de fazê-lo. Mas precisariam aprender a lição do Millôr: "ser diplomata é discordar sem ser discordante".



Cayo Menor - Cayo Cochinos - Honduras
(by Kirsten Hubbard)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O HINO E A LEI


Ontem começou a primavera. Com ela, a vigência da Lei n.º 12.031, a qual institui a obrigatoriedade da execução, uma vez por semana, do Hino Nacional Brasileiro nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental.

Não sem razão, a ordem legal vem logo após a publicidade dada à, digamos, apresentação da cantora Vanusa no Primeiro Encontro de Agentes Públicos na Assembléia Legistaviva de São Paulo. Quem ainda não assistiu o espetáculo pode acessar em http://www.youtube.com/watch?v=6w9MpztV4gk&feature=fvw, mas se prepare para uma cena de forte constrangimento.

Chegou-se a noticiar que a loira estava bêbada, mas ela atribuiu suas condições à ingestão de um remédio para labirintite associado a um calmante. De uma cantora, dita, profissional, o mínimo que se espera quando convidada (contratada?) para um evento desses, é o conhecimento da letra da música a ser executada. Mas... atire a primeira pedra quem não tropeça nos rococós poéticos do nosso Hino.

Convenhamos, o poema não é fácil. Contudo, contém versos e imagens de profunda beleza. Mais que isso, retrata as atitudes e comportamentos que, no dia-a-dia, manifestam - ou deveriam manifestar - os cidadãos brasileiros assumidos como fundamentais para a vida coletiva do povo brasileiro.

Resgatar nosso patriotismo, manifestado tão bravamente a cada quatro anos nas Copas do Mundo, é tarefa árdua para uma Nação castigada pela violência em todas as suas manifestações,  maltratada pelas carências de alimento do espírito e do corpo, que vai se submetendo a uma horda de gestores corruptos, cercados de interesseiros e "fantasmas".

Obrigar as crianças a cantar a música de Francisco Manuel da Silva, com letra de Joaquim Osório Duque Estrada, não é uma solução. No entanto, desde que se ensine os sentidos por trás das palavras, pode ser um bom passo. 

Assim, parafraseando a crônica de Cecília Meirelles, a primavera do civismo chegará, "mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."

"Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu."
Cecília Meirelles



domingo, 20 de setembro de 2009

RANKING PLAYBOY DE QUALIDADE DE VIDA E A INDENIZAÇÃO

"As dez melhores cidades brasileiras para a população masculina heterossexual viver, beber e transar".
Esse foi o título de uma das matérias da edição de abril de 2001 da Revista Playboy (Editora Abril). Entre as "Top 10" da categoria se encontrava Natal, a paradisíaca capital do Rio Grande do Norte, pelas seguintes razões:
"Nossos observadores notaram a disposição das potiguares: militantes da boa e sagrada festança. A beleza e a receptividade das potiguares pôde ser conferida na praia de Ponta Negra, a 15 minutos do centro. Elas estão ali, desacompanhadas, tomando cerveja gelada nas barraquinhas. Fora que os pesquisadores anotaram o número surpreendente de 61,4% de garotas que tomam tequila. Isso tudo ao som de rock. Com o aditivo mexicano então, o que já é fácil, fica melhor ainda."
Ilustrava a "reportagem" - se é que se pode chamar assim - a fotografia de uma jovem, tomando banho de sol, na praia citada. A editora, no entanto, não teve o cuidade de pedir autorização da fotografada para exibí-la como "militante da boa e sagrada festança".

O baixo calão da matéria publicada - ainda não achei um termo adequado.... - ofende a dignidade da brasileira em geral, das cidades ali mencionadas de forma mais particular, e, de uma maneira bem específica, as mulheres  cuja imagem não autorizada ilustra os textos.

Esta semana, o Superior Tribunal de Justiça manteve a condenação imposta pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte para que a Editora Abril indenizasse a natalense exibida  indevidamente nas páginas da revista (veja em http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/Justica/detalhe.asp?numreg=200800145070&pv=000000000000)

Esse tipo de baixaria - desisti, não vou achar um termo publicável para descrever lixo editorial - concorre para transformar nossas cidades em destino de preferência para o deplorável turismo sexual. As vítimas dessa empreitada, normalmente, são as vulneráreis, muitas vezes, as menores de idade. O Brasil não precisa dessas visitas.

Há algum tempo, uma amiga foi a praia (a mesma Ponta Negra) com seu filho. Enquanto a criança brincava por perto, ela foi abordada por um "turista" oferecendo cinquenta euros para que ela o acompanhasse ao seu hotel. Ela respondeu que era pouco. Ele aumentou a oferta para setenta euros. Ainda era pouco. Quando ele lhe perguntou quanto custaria, a resposta foi defintiva: sempre será pouco!

A indenização fixada no processo não vai recompor a honra ofendida. Nem vai restaurar a imagem da cidade de Natal ou das natalenses. Sempre será pouco! Mas, em certa medida, deve servir para que a Editora , pelo menos, tenha mais cautela.


 Morro do Careca - Praia de Ponta Negra
(por Nelson Boeira Jr.)

sábado, 19 de setembro de 2009

O QUE HOJE É

"O homem tem pressa em saber do que ele realmente é feito, como se fabrica um homem, como se dá a vida. Em toda parte, não obstante a sofreguidão da busca, resta a certeza de que, graças ao bem da ciência, tendo decifrado o código humano, teremos garantido não somente a nossa sobrevivência, mas da própria vida. Alheios a tanto empenho, crecem a ameaça e o temor do fim dos tempos."
Essas palavras intoduzem a investigação filosófica em desenvolvimento pela minha amiga Soraya Guimarães Hoepfner na gelada península nórdica, sobre a tecnologia da informação, baseada  no pensamento de Martin Heidegger acerca da relação entre homem e liguagem.

Pouco sabia eu de Heidegger, além da limitada e preconceituosa idéia de que, em algum momento de sua trajetória, ele fora simpático à causa nazista. Minha amiga, fazendo-me ir além dos conceitos superficiais, mostrou que em determinado ponto do percurso de seu pensamento, Heidegger olhou para o que é [Einblick in was das ist], para o hoje e pensou o modo como somos em meio ao avanço da ciência e da técnica moderna. Notadamente, ele tematizou, lá pelos anos dourados, a questão da cibernética e a idéia da informação.

Em apertadíssima síntese, o substancial de suas formulações sobre a técnica moderna assenta-se em três pontos: na compreensão de unidade desse fenômeno, por ele definida como enquadramento [Ge-Stell]; no entendimento de que é a ciência quem está fundada no modo imperativo existencial dessa própria técnica, e não o contrário; e, de um modo ainda mais original, na posição [Stellung] do homem que, nesse contexto, é aquele que corresponde a uma provocação [Herausforderung], em suma, o homem é tecnocientífico porque responde ao apelo de desvelar do mundo.

Pois bem, Sô. Enconrajado por você, inicío uma modesta jornada de reflexão sobre "o que hoje é", com auxílo dessa ferramenta de exposição ao mundo. Inauguro meu "blog" para expor algumas idéias, discutir nosso cotidiano. Eu não diria "enquadrado". Talvez, integrado a uma técnica que permite alcaçar tempos e espaços, a bem poucos anos, inimagináveis. Mas, definitivamente, correspondendo à provocação dos vetiginosos fatos aos meus pensamentos. Pensamentos de um paulista, advogado, há mais de 15 anos se enraizando em Natal, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil.

Espero contar com a participação e o auxílio de muitos, na construção de um mosaico e, em certa medida, alimentar a esperança na possibilidade humana.

Natal, despertar da primavera de 2009.


"A linguagem é a casa do ser. Em seu lar habita o homem. Os pensadores e os poetas são os guardiões desse lar." Martin Heidegger