domingo, 20 de setembro de 2009

RANKING PLAYBOY DE QUALIDADE DE VIDA E A INDENIZAÇÃO

"As dez melhores cidades brasileiras para a população masculina heterossexual viver, beber e transar".
Esse foi o título de uma das matérias da edição de abril de 2001 da Revista Playboy (Editora Abril). Entre as "Top 10" da categoria se encontrava Natal, a paradisíaca capital do Rio Grande do Norte, pelas seguintes razões:
"Nossos observadores notaram a disposição das potiguares: militantes da boa e sagrada festança. A beleza e a receptividade das potiguares pôde ser conferida na praia de Ponta Negra, a 15 minutos do centro. Elas estão ali, desacompanhadas, tomando cerveja gelada nas barraquinhas. Fora que os pesquisadores anotaram o número surpreendente de 61,4% de garotas que tomam tequila. Isso tudo ao som de rock. Com o aditivo mexicano então, o que já é fácil, fica melhor ainda."
Ilustrava a "reportagem" - se é que se pode chamar assim - a fotografia de uma jovem, tomando banho de sol, na praia citada. A editora, no entanto, não teve o cuidade de pedir autorização da fotografada para exibí-la como "militante da boa e sagrada festança".

O baixo calão da matéria publicada - ainda não achei um termo adequado.... - ofende a dignidade da brasileira em geral, das cidades ali mencionadas de forma mais particular, e, de uma maneira bem específica, as mulheres  cuja imagem não autorizada ilustra os textos.

Esta semana, o Superior Tribunal de Justiça manteve a condenação imposta pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte para que a Editora Abril indenizasse a natalense exibida  indevidamente nas páginas da revista (veja em http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/Justica/detalhe.asp?numreg=200800145070&pv=000000000000)

Esse tipo de baixaria - desisti, não vou achar um termo publicável para descrever lixo editorial - concorre para transformar nossas cidades em destino de preferência para o deplorável turismo sexual. As vítimas dessa empreitada, normalmente, são as vulneráreis, muitas vezes, as menores de idade. O Brasil não precisa dessas visitas.

Há algum tempo, uma amiga foi a praia (a mesma Ponta Negra) com seu filho. Enquanto a criança brincava por perto, ela foi abordada por um "turista" oferecendo cinquenta euros para que ela o acompanhasse ao seu hotel. Ela respondeu que era pouco. Ele aumentou a oferta para setenta euros. Ainda era pouco. Quando ele lhe perguntou quanto custaria, a resposta foi defintiva: sempre será pouco!

A indenização fixada no processo não vai recompor a honra ofendida. Nem vai restaurar a imagem da cidade de Natal ou das natalenses. Sempre será pouco! Mas, em certa medida, deve servir para que a Editora , pelo menos, tenha mais cautela.


 Morro do Careca - Praia de Ponta Negra
(por Nelson Boeira Jr.)

4 comentários:

  1. Uau!! linha direta.. adorei! conhece o meu? www.quandonadaenoticia.blogger.com.br

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  2. Excelente que o STJ tenha entendido a gravidade da ofensa - à mulher que virou 'ícone' e à sociedade. E o repórter e editor da matéria, assinam? fiquei curiosa pra saber quem são esses 'jornalistas'...

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  3. Parabéns pela vitória processual, Renato. E longa vida ao blog!

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  4. Atendendo ao pedido, apresentamos a equipe responsável pela matéria: Coordenação de Pesquisa, Marco Antônio Lopes; Estudos Operacionais, Dagoberto Nunes, Diógenes Ribeiro, Eduardo Burckhardt, Juarez Sobral, Leandro Simões, Lula Portela, Tiago Coraza. Fotos, Ana Paula Paiva.
    "61,4% de garotas de Natal que tomam tequila"? Juro que gostaria de conhecer os dados que permitiram essa conclusão.
    "Isso tudo ao som de rock"???? Onde? Em Natal???
    Acho-te uma graça, equipe de pesquisadores.

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