quinta-feira, 12 de novembro de 2009

XUXU, APAGA A LUZ...


Ao final do expediente dessa terça-feira, 10 de novembro de 2009, teria ocorrido o seguinte diálogo na Usina de Itaipu:

CHEFE: Quando sair, apaga tudo.
ESTAGIÁRIO: Ok.

Essa é a hipótese levantada pelos anedotistas de plantão nesse nosso Brasil da piada pronta para o "blackout" que deixou grande parte do País e todo Paraguai sem luz por diversas horas. Não é melhor que a apresentada pelo Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, ao atribuir aos caprichos da Mãe Natureza a falha no abastecimento de energia elétrica a dezoito Estados da Federação e ao nosso vizinho, em um momento de pico de consumo:

"Tanto o Operador Nacional do Sistema, como Furnas, Aneel, concluíram que o aconteceu foram descargas atmosféricas, ventos muito fortes em Itaberá, o que provocou curto circuito em três sistemas ", disse Lobão, se referindo ao órgãos que integram o Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).

Itaberá?  Para quem não a conhece - como eu, apesar de ser paulista -, a cidade fica a sudoeste do Estado de São Paulo, quase divisa com o Paraná, entre Itapeva, Itaporanga e Itararé. Confira no Google Maps., se acha que eu estou brincando (http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&client=firefox-a&channel=s&rls=org.mozilla:pt-BR:official&hs=1FI&q=itaber%C3%A1%20&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wl). De lá, o Prefeito Walter Sergio de Souza Almeida disse que não "sabia que o ocorrido tinha a ver com Itaberá". "Aqui não faltou luz e só aconteceu uma pequena falha", afirmou. Segundo relato do Prefeito e de moradores do Município, as condições do tempo não estavam tão tormentosas quanto quer fazer crer o Governo. De qualquer forma, quem observa a simpática matriz cor-de-rosa da cidade de menos de 20.000 habitantes jamais suspeitaria de sua importância estratégica para os Poderes Nacionais.

Em verdade, antes mesmo de achar as reais causas do problema - e apresentar uma justificativa plausível -, parece que a preocupação maior das  Autoridades ditas competentes foi blindar a imagem da candidata Dilma Rousseff  dos efeitos políticos do episódio. Nada mais natural na desordem lógica de uma campanha para fazer dela Presidente da República,  tendo vista a passagem da mesma pela Chefia do Ministério de Minas e Energia.

Não se trata apenas de afastar questionamentos quanto à administração do País a longo prazo, como seria de se exigir aos Ministros de Estado. Busca-se, de todas as formas, afastar uma discussão sobre a fragilidade do sistema de energia brasileiro, a falta de alternativas e o despreparo para soluções dos acidentes. Afinal,  não há razão para se inveredar por esse perigoso caminho, se o incidente foi "causado" por raios e ventos, imprevisíveis e incontroláveis.

O direito brasileiro admite que o caso fortuito e a força-maior excluam a responsabilidade civil, admitindo-os como causa para impedir o dever de indenizar.

Ótimo. Como se diz por aqui, juntou Tomé com Bebé. A culpa não é do planejamento estratégico do País.  Não é do Governo. Nem das concessionárias de distribuição de energia elétrica. Os milhares de prejudicados com a ocorrência, quer por perda de eletrodomésticos, quer por transtornos de diversas ordens, como, por exemplo, estar em uma UTI de um hospital público sem gerador na hora da falha (como ocorreu na cidade de Bauru),  tem a opção de recorrer a Xangô, orixá do raio, do trovão, do fogo e da JUSTIÇA.

É certo que os dissabores, prejuízos e medos provocados pela perda de algo que se incorporou à nossa necessidade humana, como a energia elétrica, determinam a discussão clara e ampla sobre a real situação de nossos sistemas, e as suas perspectivas para os anos futuros. Não dá para esperar a solução dos orixás. É irresponsável fugir ao debate, no estilo "não tenho nada a ver com isso".

A única pessoa - que me ocorre - satisfeita com o apagão, seria a Kika. Kika, interpretada por Clarice Piovesan, e Xuxu, vivido por Stênio Garcia, eram, originalmente, personagens de um quadro apresentado no  programa humorístico Planeta dos Homens (1976). Ela era uma mulher sensual apaixonada pelo marido; ele, um sujeito pacato que se esforça para satisfazer a mulher. O casal fez tanto sucesso que, em março de 1978, ganhou sua própria série.Quem tiver mais de quarenta vai se lembrar do bordão da esposa sempre sedenda: "Xuxu, apaga a luz..."


Kika (Clarisse Piovesan) e Xuxu (Stênio Garcia)
Foto de Divulgação (site "mofolandia.com.br")




 Matriz de Itaberá (com ameaçadoras nuvens ao fundo)
Por José Reynaldo da Fonseca

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