terça-feira, 20 de outubro de 2009

CUIDE DE VOCÊ.

Certa vez uma professora de literatura questionou a turma onde eu estudava sobre a diferença entre um artista e as demais pessoas. Jamais esqueci sua resposta: diante de um pôr-do-sol, por exemplo, há aqueles que se emocionam, aqueles que nem percebem o espetáculo, talvez alguém grite, muitos aplaudem... o artista cria.

A francesa Sophie Calle buscou inspiração na realidade para criar as obras expostas até o dia 22 de novembro de 2009, no Museu de Arte Moderna de Salvador-BA, reunídas sob o título "Prenez soin de vous", ou "Cuide de Você", como ficou traduzido. A artista - famosa por algumas bizarrices como ter filmado a mãe morrendo,  ou convidado desconhecidos para dormir em sua cama,  enquanto os fotografava - causou rebuliço na a Bienal de Veneza de 2007 com este trabalho. A mostra reúne fotografias, vídeos e textos de mais de 100 mulheres e uma cacatua. Todas interpretam um e-mail recebido por Sophie dois anos antes. Nele, o escritor Grégoire Bouillier, seu então namorado, propunha um acordo, no qual ele entrava com o pé, e se despedia com a frase-título da exposição.

A artista de 55 anos exibe sua própria dor e estarrecimento, buscando em outras pessoas  respostas para  sua questão pessoal. "Recebi um e-mail dizendo que havia acabado. Não sabia como responder. Era como se ele não me fosse destinado. Ele terminou com as palavras, “Cuide de você”. Segui esse conselho ao pé da letra. Pedi a 104 mulheres (e também a duas bonecas e uma fêmea de papagaio), escolhidas por suas  profissões ou habilidades, para interpretar a carta. Para analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Dissecá-la. Exaurí-la. Compreendê-la para mim. Responder para mim. Foi uma forma de ocupar o tempo da ruptura Uma maneira de cuidar de mim mesma", justifica Sophie.

Criar sob a provocação de pequenas (ou grandes) tragédias, dessas que nos irmanam em nossa vulnerabilidade humana, exige talento para não gerar um espetáculo de patético exibicionismo. Com maestria Sophie Calle escapa da armadilha. Interpretações técnicas, acadêmicas e sigelas, são amalgamadas pela emoção.


Como todos os julgamentos, idéias pré-concebidas ou simples tendências ditadas pela formação de cada intérprete do texto são explícitos; somados às imagens contundentes elaboradas por Sophie,  formam um mosaico rico e instigante. O rol de mulheres que aceitaram o desafio inclui sua mãe; as atrizes Jeanne Moreau, Victoria Abril e Maria de Medeiros; a compositora Laurie Anderson; a DJ Miss Kittin; Marie-Agnès Gillot, a primeira bailarina da Ópera de Paris; e profissionais como linguista, taróloga, juíza, antropóloga, designer, sexóloga, assistente social e clarividente, entre outras. A juíza fala do rompimento de um contrato. A revisora aponta os erros de sintaxe do email. A grafóloga o chama de egocêntrico. A psiquiatra diz que a dispensada não precisa de antidepressivos, apenas conviver por um tempo com a tristeza. Uma adolescente se manifesta via sms: “Esse cara se acha!”. A cacatua (curiosamene tratada como "fêmea de papagaio"), literalmente, devora o e-mail.

Há, com toda certeza, uma ruptura entre o mundo público e a vida privada. No entanto,  em meio a tanta criatividade, algo resvala no óbvio, na solidariedade feminina (ou simplesmente, a solidariedade na dor da rejeição). Exceto pela visão de uma  menina de 9 anos: "ele escreve para contar a ela que quer se separar. É legal, mas complicado. Diz que a ama e quer se separar. Isso é muito triste.” E é mesmo.

Também aí reside a beleza da arte. Em traduzir a tristeza...





2 comentários:

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  2. AMOR INCONSEQUENTE


    Amor eterno que brotou em meu coração
    Surgiu das nuvens cheio de paixão
    Quando brilha o sol irradia todo meu ser


    Parece uma chama
    Que queima todo corpo
    Com tentação,
    Com agonia,
    Com paixão,
    Sem nada temer


    Eterno e louco amor
    Nem imaginei quando chegou
    Que pudesse penetrar em todo meu ser
    Com essa eterna paixão
    Parece um vilão
    De tanto querer ser correspondido



    Tudo foi em vão
    Tu pareces seguro
    Vives no obscuro não apareces para desfrutar
    Este lindo sentimento que tenho para te dar.


    Margarida

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